A era adormecida
Conto de JulianaTenho quarenta anos e sou separada há três. Vivo com meus filhos uma vida tranqüila e sossegada, quase sem sair de casa, a não ser, é claro, quando a fome aperta e tenho que ir à luta. Pois é. Mas nesta noite eu não estava no cio, nem querendo nada. Estava vivendo uma das minhas fases de quietude total. Sai apenas para comprar cigarros. Eu tinha um vestidinho ligeiro jogada em cima do corpo, estava sem nenhuma maquilagem, com a pele esticadinha e bronzeada de um sol de inverno, sandalinha no pé. Enfim, eu devia estar parecendo bem mais jovem pelo jeito (descontraido) com que me vestia. Também, a vida mansa que eu levo - muito sono e quase nenhuma preocupação financeira, muito trato, é claro - não me deixa envelhecer.
Moro em Santa Teresa, mas não costumo freqüentar os famosos pontos de encontro, como a Americana no Largo das Neves ou o Armando no Guintarães. E muito menos o Carvelo. Aquela é uma barra um tanto pesada para a minha vidinha burguesa. Acontece que, às onze horas da noite, não tem nada aberto em Santa Teresa, a não ser o barzinho do Curvelo. E foi ali que fui bater.
Eu fui chegando e ouriçando todas as atenções. Gente nova no pedaço, era o que eu representava. Como sou muito comunicativa e dada, quando um menino que parecia ter vinte anos me entendeu a mão, eu me mostrei afável e receptiva, talvez um pouco maternal, pensando: "Que gente simpática e alto astral. Preciso freqüentar mais este lugar." Sem sair da minha pele de coroa, eu achava que o menino estava sendo apenas um bom anfitrião. Afinal, ele era um dos donos do pedaço. E bebi do seu copo, que passava de boca em boca, ouvindo comentários deste tipo: como você é bonita! Onde é que você andava escondida? E passaram a querer saber da minha vida toda. Meio encabulada, pôr estar sendo alvo de tantas atenções e elogios, fui me desculpando e saindo, esquecendo até de comprar os cigarros, com o menino (que depois fiquei sabendo que se chamava Beto) no meu encalço. "Ei, onde é que você vai?". "Pra minha casa, é claro", respondi. "Você me dá uma carona?". "Claro, pode entrar." E o deixei embarcar no meu carro, pretendendo deixá-lo pelo caminho, à porta de sua casa, que ele se esquivava de dizer onde ficava.
Eu já estava a um quarteirão da minha, quando parei e lhe pedi que descesse. "Você vai ter que ficar pôr aqui. Se você tivesse me dado a sua direção eu até podia ter deixado você em casa. Acontece que eu não sou advinha." Cinicamente, ele contestou: "Não é: Que pena. Só assim você ia estar sabendo o que eu estou louquinho para fazer com você." Perplexa, retruquei: "Que bobagem. Eu tenho idade para ser sua mãe." "Quem me dera! Com uma mãe assim tão gostosa eu não saía de casa." E foi me agarrando e me dando um tremendo beijo na boca, que me deixou sem fôlego. A fera adormecida que estava dentro de mim foi bruscamente despertada. Mas o preconceito falava mais alto. "Quantos anos você tem?", perguntei infantilmente, esperando talvez que ele mentisse. "Vinte e seis." E foi me agarrando outra vez, com cinqüenta mãos ao mesmo tempo. Eu só não me entregava pela possibilidade de ser vista pôr algum vizinho e porque realmente eu achava muito desproporcional ter uma aventura com alguém quatorze anos mais jovem do que eu. E ia pensando sobre isso enquanto o empurrava, rejeitando suas carícias. Ele pareceu adivinhar os meus motivos e falou: "Vocês, mulheres, são engraçadas. Falam tanto em feminismo e não acham nada de mais quando vêem um coroa namorando uma garotinha. E quando são garotinhas até dão prós coroas." "Nada disso," retruquei. "Eu acho que a coisa tem que ser igual dos dois lados." E mesmo? Então seja igual comigo e me dê um beijo direito, que eu estou louquinho pôr você." "Tá bom, tá bom. Eu só não posso ficar parada aqui. Vamos descer pra comprar o meu cigarro que eu acabei não comprando." Ele tinha um jeito tão incrível de conseguir o que queria que foi me ganhando. Descemos em direção à Lapa e finalmente comprei meu cigarro. Impus, entretanto, uma condição: ele não deveria me tocar enquanto eu não lhe desse permissão. Estávamos agora acompanhados de um casal ao qual eu dera uma carona a pedido dele. Os dois iam atrás calados quando a mão dele começou a entrar pôr debaixo do meu vestido e, pôr mais que a empurrasse com toda a força enquanto dirigia o Volks, eu não tinha forças para repeli-lo com uma só mão. A única coisa que eu podia fazer era tomar uma resolução radical: parar e fazê-lo descer, humilhando-o perto dos amigos. E isso nem me ocorreu porque eu estava realmente gostando de ser objeto de tal interesse da parte dele. Continuei com aquela luta desigual com a mão dele se metendo dentro da minha calcinha e ele sentindo o quanto eu já estacava molhada, e ai não deu mais pra meu enganar. Eu estava querendo tanto quanto ele, e quando entendi isso fui abrindo as pernas para que ele pudesse me manipular melhor. Nestas alturas minha vagina latejava loucamente e ele enfiava a língua no meu ouvido e mordia meu pescoço. Ai eu fui amolecendo e achando que tinha mais era que dar pra ele, que ele me merecia pra valer, porque tinha me despertado depois de tão prolongado recesso. Imaginei o quanto ele devia ser bom de cama com aquela fome toda. Deixamos o casal em Paula Matos e um pouco adiante de onde os deixamos Beto me pediu para parar. Aí eu já estava tão seca quanto ele para beijar, abraçar e trocar carícias de toda a espécie. É como ele me beijava e me pegava gostoso. Amoleço só de me lembrar. Então ele tirou seu membro para fora das calças e eu, assustada, fui olhando em todas as direções. "Pode deixar que eu garanto; isso daqui eu conheço", disse ele. E me fez agarra o seu pênis grande e rijo. Eu tinha tanta fome e era tanto o que me oferecia que abocanhei seu sexo sedoso e perfumado. Impaciente pra me conhecer, no sentido mais profundo, ele me puxou pelos cabelos, me acomodou no banco e eu, para ajudar, fui abrindo as pernas, com elas já pro alto, e ele introduziu-se com força e com vontade. Eu gemia e gritava tanto que ele tinha que tapar a minha boca pra não acordar as pessoas. Quando a gente estava pra gozar ele saiu assustado, se recompondo. Eu, é claro, pôr reflexo, me recompus também. Era uma patrulhinha, que já vinha a uns cinqüenta metros. Quase morri ao pensar no que aconteceria se tivessem nos pegado. Então ele tomou a direção e me levou para uma casa, onde poderíamos ficar à vontade, segundo ele. A casa ficava numa ruazinha sem saída, num daqueles bequinhos de Santa Teresa. Só então eu olhei para o céu e reparei que era noite de lua cheia. Antes de entrar na casa, ele me encostou no muro e, guardando o seu pênis rijo quanto antes, entre a clacinha e meus grandes lábios, fazia um movimento de vaivém. eu sem dizer nada, olhando a ou a e vendo estrelas, estava totalmente à mercê daquele menino endiabrado, que queria tudo ao mesmo tempo: que me suspendia o vestido e me tirava as calças no meio da rua. Entramos. A casa estava toda às curas e tinha uma pessoa dormindo na sala. "Quem é?", perguntei. "Não sei, isto aqui é uma república, cada dia pinta uma cara nova. Não é exatamente uma república, porque não mora ninguém. A casa é de uma amiga minha. Ela empresta para quem tá na pior; a turma se retime aqui todo fim de semana." Já outra vez assaltado pelos meus receios e pudores burgueses, estava pra me arrepender de estar ali quando ele me puxou pela mão e me convidou para o quarto. O quarto não tinha cama nem luz, apenas uma janela que deixava entrar a claridade da lua. O meu parceiro olhou em volta e descobriu, enrolado a um canto da parede, um tapete de couro de boi. Estendeu-o cuidadosamente e, ajoelhado sobre ele, começou a me beijar pernas acima, desaparecendo sob minha saia para embrenhar a língua no meu sexo e sugá-lo, até eu não agüentar mais e ir ajoelhado para me deixar com ele, não sem antes me livrar de toda a roupa que impedia o contato total dos nossos corpos. Quando ele viu meus seios saltarem livres da roupa, agarrou-os e chupou ruidosamente, e só então estendeu-se sobre mim e me fez sentir o que era bom. Então eu levantei as duas pernas e me escancarei o mais que pude para senti-lo bem fundo, para me dar todinha, e gozei gemendo e gritando como há muito tempo não fazia. Só então me dei conta de que devia ser umas duas da manhã e que eu tinha compromissos no dia seguinte. Fui ao banheiro me levar, e, quando me preparava para sair, dei com o meu parceiro, que vinha ao meu encontro. Quando ele me abraçou, senti que estava pronto pra outra. Desta vez foi em pé, no meio do banheiro. Antes que eu tivesse tempo de dizer ou pensar qualquer coisa, ele pegou o seu revolver e, dobrando as pernas conseguiu encaixá-lo divinamente na minha vagina. Era tão bom o contato da pele do seu membro com o interior dela recém-lavada, quase sem nenhuma lubrificação; a posição do seu membro voltado para cima e a movimentação ágil que ele conseguia dar aos nossos corpos naquela posição, que eu gozei uma vez mais, em poucos segundos. Sem querer interromper aquele contato incrível das nossas peles, fomos caminhando até o quarto metidos um no outro. Apesar de ele ter gozado, o seu membro não arrefecera; continuava naquela posição como um cabide, um ponto de sustentação para os meus quadris. É claro que eu caminhava na ponta dos pés, com a musculatura vaginal concentrada em não deixar escapar o que guardava, e me pendurava nele, enlaçada ao seu pescoço. Conseguimos chegar ao quarto grudados, e tal era o entendimentos dos nossos corpos que, com as minhas pernas envolvendo a cintura dele, conseguimos chegar ao chão naquela posição de último tango em Paris. E recomeçamos até o dia seguinte, quando a menina que dormia na sala entrou para perguntar qualquer coisa, sem se importar com a nossa nudez. E sabem de uma coisa? Eu também pouco estava me importando. Estava tão realizada como mulher que pra mim não existia nenhuma diferença entre nós três. Nem de idade, nem de geração, nem de estilo de vida. Só me dei conta de uma coisa: estava na hora de voltar para casa.Ju